A Distopia da Tecnocracia Feudal
- Copie o link
- Via Facebook
- Via Twitter
- Via Pinterest
- Via Google+
- Via Linkedin
- Via Email
- Turn off the light
A Distopia do Feudalismo na Atualidade: Uma Reflexão Sobre a Sociedade Moderna
O conceito de feudalismo remonta à Idade Média, um período em que a sociedade era rigidamente estruturada, com a divisão clara entre senhores feudais, que detinham o poder, e camponeses, que trabalhavam a terra e pagavam impostos. O senhor feudal, geralmente um nobre que vivia em um castelo, controlava vastas terras e tinha sob sua responsabilidade o sustento da população local. A economia, nesse sistema, era baseada principalmente na agricultura e na subsistência, onde os camponeses dependiam das terras para sobreviver e, em troca, deveriam pagar tributos ao senhor feudal e, em última instância, ao rei.
No entanto, o que muitos não percebem é que esse modelo feudal, que dominou a Europa por séculos, tem paralelos interessantes com nossa sociedade moderna, principalmente com o sistema capitalista e as estruturas de poder que observamos hoje. Ao entender como o feudalismo funcionava, podemos perceber que, de certa forma, estamos vivendo uma distopia feudalista no presente.
O Surgimento dos Burgos e a Ascensão da Burguesia
A transformação do sistema feudal começou com a ascensão dos burgueses, que surgiram a partir das feiras comerciais que começaram a acontecer em locais fixos, chamados burgos. Os burgos eram centros urbanos onde os camponeses podiam vender seus produtos e serviços, gerando um comércio local e estimulando o crescimento de uma nova classe social. Com o tempo, os burgos se tornaram cidades e os burgueses, inicialmente simples comerciantes, passaram a ter um poder econômico significativo.
À medida que os burgueses acumulavam riqueza, começaram a questionar a necessidade de depender do senhor feudal ou do rei. Com o comércio crescente, muitos burgueses começaram a desenvolver um poder financeiro independente, o que enfraqueceu o sistema feudal, que estava fortemente baseado na exploração da agricultura e na coleta de tributos. Isso levou a uma mudança significativa na estrutura de poder da época, pois os burgueses, com sua riqueza e influência, começaram a desafiar a autoridade dos antigos senhores feudais.
O Medo do Senhor Feudal e a Resistência à Independência dos Burgueses
O poder dos burgueses começou a crescer tanto que muitos senhores feudais temeram perder o controle sobre suas terras e súditos. Os burgueses passaram a se tornar independentes, não precisando mais do apoio do rei ou dos senhores feudais para se proteger ou para garantir sua subsistência. Isso gerou uma tensão, pois, ao se tornarem autossuficientes, esses novos ricos não estavam mais dispostos a seguir as ordens de um líder feudal. Isso ameaçava o sistema que mantinha todos sob o controle de uma única autoridade.
A preocupação dos senhores feudais era clara: quanto mais camponeses se tornassem burgueses, mais enfraquecido se tornaria o sistema feudal. Se todos os camponeses tivessem a liberdade de negociar seus próprios produtos e serviços, sem depender de um senhor feudal para sustento ou proteção, a estrutura feudal perderia a razão de existir. Por isso, o temor do senhor feudal era que a classe camponesa se transformasse em uma classe burguesa, criando uma nova ordem social.
A Crítica ao Capitalismo: Uma Distopia Moderna
Com a ascensão do capitalismo e a crescente centralização de riqueza e poder nas mãos dos burgueses, muitas críticas começaram a surgir. Os críticos do capitalismo argumentam que esse sistema explora as classes trabalhadoras, criando um abismo entre os mais ricos e os mais pobres. No entanto, o que muitos não percebem é que essa crítica, em muitos casos, pode ser uma defesa velada do antigo sistema feudal. Ao criticar os burgueses e o capitalismo, algumas correntes de pensamento estão, na verdade, defendendo uma volta à centralização do poder, similar à que existia no feudalismo.
Os líderes comunistas e outros defensores de sistemas socialistas frequentemente fazem críticas ferozes ao capitalismo, alegando que ele destruiu a sociedade e criou desigualdades profundas. No entanto, é importante questionar se essa crítica realmente representa um movimento em favor do povo ou se ela é uma forma de manter a centralização do poder, onde um líder ou um pequeno grupo de pessoas controlam os recursos em nome da "proteção" e "benefício" dos cidadãos.
O feudalismo funcionava exatamente dessa forma: um único poder centralizado (o rei ou o senhor feudal) controlava todos os recursos e determinava a vida das pessoas, em troca de proteção. Quando os camponeses se tornaram burgueses, começaram a questionar essa estrutura. A crítica ao capitalismo, portanto, pode ser vista como uma tentativa de restaurar o sistema feudal, onde uma pequena elite detinha o poder sobre a maioria da população.
A Inversão da Lógica: O Medo da Independência
Um dos principais medos que os senhores feudais tinham era que os camponeses se tornassem burgueses e, assim, se tornassem independentes. O mesmo medo parece existir em alguns setores da sociedade moderna, onde há uma tentativa de impedir a mobilidade social e a criação de uma classe média independente. Quando as críticas ao capitalismo são feitas sem uma compreensão mais profunda, pode-se estar, na verdade, favorecendo uma recentralização do poder, algo que se assemelha ao que acontecia no feudalismo.
Essas críticas ao capitalismo, especialmente em algumas ideologias políticas, podem ser vistas como um retorno ao pensamento feudal, onde a independência das pessoas e a livre iniciativa são vistas como ameaças ao sistema. Em vez de estimular a liberdade e a autonomia individual, essas correntes políticas podem, inadvertidamente, estar defendendo um sistema em que todos dependem de um líder centralizado para viver, como era no feudalismo.
A Distopia Feudalista da Modernidade
No final das contas, a distopia do feudalismo não é algo que pertence exclusivamente ao passado. A distopia feudalista da nossa atualidade é visível em várias camadas da sociedade moderna. Por um lado, temos a ascensão de uma elite financeira poderosa, que controla grande parte dos recursos e do poder. Por outro, temos movimentos que, em nome da igualdade e da justiça social, muitas vezes ignoram a importância da liberdade individual e da independência econômica, propugnando por um sistema centralizado que remonta ao feudalismo.
Em muitos aspectos, o sistema feudal ainda persiste, só que agora de uma forma diferente. A classe burguesa se tornou a classe dominante, mas as dinâmicas de poder e exploração ainda podem ser vistas, especialmente nas críticas ao capitalismo e nas tentativas de restaurar a centralização do poder. A verdadeira liberdade e a verdadeira independência não vêm de um sistema em que dependemos de um líder ou de um grupo centralizado, mas da capacidade das pessoas de serem autossuficientes e de se organizarem de forma independente, sem a necessidade de um controle autoritário.
Neste contexto, é importante refletir sobre como as estruturas de poder, tanto no passado quanto no presente, moldam a sociedade e influenciam a vida de todos. A distopia do feudalismo, embora aparentemente pertencente ao passado, ainda é uma realidade presente, adaptada às novas circunstâncias.
Com o fim do feudalismo devido a fome, pestes e guerras surgiu o capitalismo que gerou mais fome, pestes e guerras devido a sua tecnocracia doentia e lideres que só pensou em si mesmos, sociedades secretas e confrarias dominaram o mundo e o que sobrou são os ricos e os escravos, esse mundo virou uma distopia tecnocrática feudal.
Feudalismo compreende o sistema político, econômico e social que predominou na Europa Ocidental entre o início da Idade Média até a afirmação dos Estados modernos, tendo seu apogeu entre os séculos XI e XIII. O conceito teórico foi criado nos séculos XVII e XVIII por advogados franceses e ingleses, e popularizado pelo filósofo Charles-Louis de Secondat, barão de Montesquieu. Os romanos, a exemplo dos gregos, chamavam de "bárbaros" a todos aqueles que não tinham seus costumes e que não falavam sua língua. Entre esses povos, estavam os germanos, cujas invasões provocariam a desestruturação do Império Romano do Ocidente.
Aqueles que questionavam os dogmas (verdades reveladas) instituídos pela Igreja eram vistos como inimigos. Em outras palavras, os que interpretavam os ensinamentos cristãos de maneira diferente daquela que a Igreja pregava eram chamados de hereges (por professarem uma fé diferente da católica).
A dissolução do feudalismo foi apressada no final da Idade Média por uma sucessão de acontecimentos que geraram a chamada Crise do século XIV. A produção de alimentos sempre foi deficiente no sistema feudal, de modo que a fome era uma ameaça constante. Entre 1315 e 1317, a situação se agravou e provocou surtos de fome em vários lugares da Europa. A falta de estrutura das cidades, para suportar o aumento populacional, associada ao problema da fome acabou desencadeando uma série de epidemias. A pior de todas foi a chamada "peste negra", que assolou a Europa entre 1348 e 1350 e matou cerca de um terço de toda a população. Aos poucos, o sistema capitalista acabaria por substituir inteiramente o feudalismo, tornando-se dominante no séculos seguintes.
Após a crise das dívidas soberanas, o termo tecnocrata foi novamente usado na imprensa europeia. Estes, tais como os primeiros-ministros de Itália (Mario Monti) e da Grécia (Lucas Papademos), foram vistos por uns como solucionadores de problemas que os políticos não conseguiram resolver e, por outros, como pessoas catapultadas para o topo da política, a fim de pôr em prática as ordens dos seus "diretores" na Alemanha e na França, tendo por conseguinte a palavra tecnocrata, adquirido uma conotação pejorativa.
O termo tecnocracia deriva das palavras gregas tekhne, que pode significar técnica, destreza, habilidade ou aptidão. Ao passo que kratos, designa governo. William Henry Smith, um engenheiro californiano, é apontado como o inventor do termo tecnocracia em 1919, que o definia como "the rule of the people made effective through the agency of their servants, the scientists and engineers", embora a palavra já tivesse sido usada várias vezes antes.
O pensamento tecnocrata se origina nas raízes da Escola de Pitágoras cujo projeto era implantar "o Governo dos Sábios". Pitágoras - mais de 2500 anos atrás - pode ser considerado “o primeiro pensador tecnocrata” que lutou pela causa do saber contra a tirania sendo perseguido e condenado à morte. Entretanto, os seus discípulos disseminaram suas ideias que permanecem atuais. Para os pitagóricos a atividade científica seria a forma mais elevada de purificação da alma.
A Distopia da Tecnocracia Feudal
O que é a tecnocracia feudal? É um termo que descreve uma forma de organização social e política baseada na dominação de uma elite tecnológica sobre as massas. Nessa distopia, os detentores do conhecimento e do poder tecnológico usam sua vantagem para explorar, controlar e manipular os demais, criando uma sociedade desigual, injusta e opressiva.
A tecnocracia feudal não é uma ficção científica, mas uma realidade que já se manifesta em vários aspectos da nossa vida cotidiana. Vejamos alguns exemplos:
- A concentração de riqueza e influência nas mãos de poucas corporações tecnológicas, como Google, Facebook, Amazon e Apple, que detêm o monopólio de serviços essenciais para a comunicação, a informação, o consumo e o entretenimento. Essas empresas coletam e analisam os dados pessoais dos usuários, sem o seu consentimento ou transparência, e usam essas informações para moldar seus comportamentos, preferências e opiniões.
- A precarização do trabalho e a substituição dos trabalhadores humanos por máquinas inteligentes, que reduzem os custos e aumentam os lucros dos donos do capital. A automação e a inteligência artificial ameaçam eliminar milhões de empregos em diversos setores da economia, gerando desemprego, pobreza e exclusão social. Além disso, os trabalhadores que permanecem no mercado são submetidos a condições degradantes, como jornadas extenuantes, salários baixos e falta de direitos e benefícios.
- A erosão da democracia e da soberania popular pela interferência das tecnologias digitais nos processos eleitorais e políticos. As redes sociais e as plataformas de mídia se tornaram os principais canais de informação e debate público, mas também são usados para disseminar fake news, propaganda ideológica e discursos de ódio. Os algoritmos e os bots influenciam as escolhas e as percepções dos eleitores, favorecendo candidatos e partidos alinhados aos interesses das elites tecnocráticas. Os governos também usam as tecnologias de vigilância e controle para monitorar e reprimir os cidadãos que se opõem ao seu regime.
- A alienação e a perda da identidade humana pela dependência excessiva das tecnologias digitais. As pessoas passam cada vez mais tempo conectadas aos seus dispositivos eletrônicos, consumindo conteúdos superficiais e efêmeros, sem questionar sua origem ou veracidade. Elas se isolam da realidade e das relações sociais presenciais, perdendo o senso crítico e a capacidade de reflexão. Elas também se submetem a padrões estéticos e comportamentais impostos pelas mídias digitais, buscando a aprovação e a validação dos outros através de likes e seguidores.
Como podemos resistir à tecnocracia feudal? Não há uma resposta simples ou única para essa questão. Mas podemos começar por tomar consciência dos riscos e dos desafios que as tecnologias digitais representam para a nossa sociedade e para a nossa humanidade. Podemos também buscar formas de usar essas tecnologias de maneira crítica, ética e responsável, respeitando os direitos humanos e os valores democráticos. E podemos ainda participar ativamente dos espaços públicos de discussão e decisão sobre o desenvolvimento e o uso das tecnologias digitais, exigindo transparência, regulação e fiscalização das corporações e dos governos que as controlam.
A tecnocracia feudal é uma distopia que pode se tornar realidade se não agirmos em defesa da nossa liberdade, da nossa dignidade e da nossa cidadania. Não podemos nos render ao fatalismo ou ao conformismo diante do avanço tecnológico. Podemos sim construir um futuro melhor para nós mesmos e para as próximas gerações.