A sensação de repetição da vida, um ciclo de repetiçÔes é algo bem esquisito, a nossa lógica do mundo material não compreende essa possibilidade, mas mesmo assim é um pensamento que todos jå tiveram pelo menos uma vez na vida.
Eterno retorno
O eterno retorno (tambĂ©m conhecido como eterna recorrĂȘncia) Ă© uma teoria de que o universo e toda a existĂȘncia e energia estiveram recorrentes e continuarĂŁo a ocorrer, de forma autossemelhante um nĂșmero infinito de vezes atravĂ©s do tempo ou espaço infinito, ou de que hĂĄ um padrĂŁo cĂclico de certas recorrĂȘncias, como em eras na roda do tempo.
A teoria Ă© encontrada na filosofia indiana e no Egito antigo, bem como na literatura da sabedoria judaica (Eclesiastes) e foi posteriormente adotada pelos pitagĂłricos e estoicos. Com o declĂnio da antiguidade e a expansĂŁo do cristianismo, a teoria caiu em desuso no mundo ocidental, com exceção do filĂłsofo do sĂ©culo XIX, Friedrich Nietzsche, que conectou o pensamento a muitos de seus outros conceitos, incluindo o amor fati. O eterno retorno se relaciona tambĂ©m Ă filosofia do prĂ©-determinismo, na qual as pessoas sĂŁo predestinadas a continuar repetindo os mesmos eventos repetidamente.
Nietzsche chama a ideia de "horrĂvel e paralisante", referindo-se a ela como um fardo do "peso mais pesado" ("das schwerste Gewicht") imaginĂĄvel. Ele professa que o desejo pelo eterno retorno de todos os eventos marcaria a afirmação final da vida, como na sĂntese encontrada em A Gaia CiĂȘncia:
E se um dia ou uma noite um demĂŽnio se esgueirasse em tua mais solitĂĄria solidĂŁo e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terĂĄs de vivĂȘ-la ainda uma vez e ainda inĂșmeras vezes: e nĂŁo haverĂĄ nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que hĂĄ de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida hĂĄ de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequĂȘncia - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as ĂĄrvores, e do mesmo modo este instante e eu prĂłprio. A eterna ampulheta da existĂȘncia serĂĄ sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!". NĂŁo te lançarias ao chĂŁo e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demĂŽnio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderĂas: "Tu Ă©s um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu Ă©s, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inĂșmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, entĂŁo, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para nĂŁo desejar nada mais do que essa Ășltima, eterna confirmação e chancela? [A Gaia CiĂȘncia, §341]
Albert Camus
O filĂłsofo e escritor Albert Camus explora a noção de "eterno retorno" em seu ensaio "O Mito de SĂsifo", no qual a natureza repetitiva da existĂȘncia representa o absurdo da vida, algo que o herĂłi procura suportar ao manifestar o que Paul Tillich chamou "A Coragem de Ser". Embora a tarefa de rolar a pedra repetidamente subindo a colina sem fim seja inerentemente sem sentido, o desafio enfrentado por SĂsifo Ă© abster-se do desespero. Por isso, Camus conclui que "Ă© preciso imaginar SĂsifo feliz".
ReligiÔes indianas
O conceito de padrĂ”es cĂclicos Ă© proeminente nas religiĂ”es indianas, como jainismo, hinduĂsmo, siquismo e budismo, entre outras. A distinção importante Ă© que os eventos nĂŁo se repetem infinitamente, mas as almas nascem atĂ© que alcancem a salvação. A roda da vida representa um ciclo interminĂĄvel de nascimento, vida e morte, do qual se busca a libertação. No budismo tĂąntrico, um conceito de roda do tempo conhecido como Kalachakra expressa a ideia de um ciclo interminĂĄvel de existĂȘncia e conhecimento.
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